"Como foi seu dia na creche?" essa é a pergunta que faço quase todos os dias para o meu filho de 4 anos quando ele volta pra casa. Na grande maioria das vezes, a resposta é "divertido". Uma palavrinha de 4 sílabas com um potencial enorme para engajar um papo sobre coisas que ele fez com os amigos, novos trabalhinhos que estão construindo e desafios que estão superando. Todo dia tem algo diferente.
E se eu te perguntasse "como foi seu dia de trabalho?" (hoje, ontem, ou há algum tempo), o que você me contaria? Tenho a hipótese de que uma boa parte das pessoas responderia "um dia normal", "igual a todos os outros", "nada de diferente dos anteriores".
Trabalhar com design é desafiar esse padrão. É ter o compromisso de fazer com que cada dia de trabalho seja diferente, pois ele está conectado a um propósito maior do que simplesmente cumprir aquela carga horária diária e receber o salário no final do mês.
Cada fruto do seu trabalho tem um usuário no final. Seja você designer, pesquisador, desenvolvedor (ou qualquer cargo com nome super fancy que você tenha). Vou te contar um segredo (que espero sinceramente que você me diga que já sabia): esse "usuário" é, na verdade, uma pessoa. E o seu trabalho está conectado com algo que ela quer fazer: seja pedir um transporte para ir para casa, se alimentar, estudar ou conhecer outras pessoas.
Pense em todas as vezes que você utilizou algum site ou aplicativo e algo não saiu como esperava. Sabe essa frustraçãozinha - e até mesmo raiva - que sentiu? É isso que a essa "pessoa" sente. É importante nos conectarmos com isso para que possamos fazer a diferença.
E precisamos falar de propósito. Porque acredito que ele seja a chave para fazer com que tudo isso que estamos falando saia dessas linhas e alcance nossa rotina de trabalho, tão lotada de armadilhas que nos jogam diretamente num mood corporativo, cheio de reuniões que poderiam ser emails, decisões top-down e sapos engolidos em nome de... do que mesmo?
Propósito é lembrar porque estamos aqui. É a hora de nos conectar com aquela "pessoa" e com seu objetivo (aquilo que ela queria fazer) - e que você a está ajudando a alcançar.
Não vamos entrar no critério se existem objetivos mais ou menos nobres. É um objetivo do seu usuário final e você faz parte disso. Você pode escolher ser a pessoa que ajudou, ou a pessoa que viveu mais um dia de trabalho como qualquer outro.
Como seriam essas opções?
Quer experimentar? Esses são três exercícios que tenho tentado aplicar pra continuar acreditando na opção de "ser a pessoa que ajuda":
Nada é mais motivador para continuar escolhendo "ser a pessoa que ajuda" do que ver o impacto e potencial do seu papel na vida daquelas pessoas que serão as principais beneficiadas pelo seu trabalho.
Faça pesquisas (menos ou mais estruturadas, com muitas ou poucas pessoas), mas faça. Caso a sua empresa não tenha uma equipe de pesquisa, converse com pessoas que estão mais próximas do cliente final (o time de atendimento ao cliente deve ser seu melhor amigo!). Leia o que está sendo falado a respeito do seu produto (nas redes sociais, grupos de discussão, lojas de aplicativos, etc.).
Saiba que você não é a única pessoa que quer ajudar. Não importa o tamanho da empresa que você trabalha, provavelmente a alguns metros de você tem mais alguém sofrendo porque gostaria de fazer um trabalho mais focado do usuário.
Uma rede de apoio não se constrói de um dia para o outro. É preciso confiança para compartilhar frustrações, ideias e respirar fundo para um novo desafio. Acredito que o primeiro passo seja reconhecer o primeiro aliado. E compartilhar o que você acredita. Aceitar a vulnerabilidade e dizer "Está difícil, mas eu acredito e acho que você também acredita. Vamos juntos?".
Você sai de uma entrevista com seu propósito super alimentado depois de ouvir sobre a importância do seu produto na vida de uma pessoa... você já tem sua rede de apoio que também pensa como você e quer muito fazer a diferença... mas ainda assim tem hora que parece que você se encontra num beco sem saída - normalmente bem na hora de
argumentar com algum HiPPO ("Highest Paid Person's Opinion" - livremente traduzido como “Opinião da Pessoa Mais Bem Paga”).
Abrace o potencial da multidisciplinariedade: vá além do estudo tradicional de design. Dê alguns passos e revisite o mundo maravilhoso da arquitetura de informação, por exemplo. Depois, dê um salto e mergulhe em temas como Comunicação Não Violenta e escuta ativa. E, por último, vire para o lado e converse com a primeira pessoa que encontrar para colocar em prática tudo o que você aprendeu.
É isso. Não é fácil, mas lembre-se que juntos somos mais fortes :)
E amanhã, além de pensar qual roupa vai colocar para trabalhar, lembre-se que você tem mais uma importante decisão: fazer a diferença!
Com mais de 15 anos na área de User Experience & Research, tenho o propósito de humanizar relações e experiências. Trabalhando em diferentes mercados na Europa, América Latina e Brasil, tenho me empenhado em usar - e equilibrar - diferentes tipos de métodos para ajudar empresas a percorrer os melhores caminhos e alcançar seus usuários da maneira mais significativa. Sou a mãe do Vicente, professora e palestrante - atualmente aprendendo muito como Head de User Studies no Descomplica.