Como fugir da mediocridade

JP Teixeira
Brand Designer
,
Webflow
UPDATE:

A pandemia mudou tudo em 2020.
Por isso este artigo foi revisitado por quem escreveu em entrevista para o UXNOW com apoio da Deeploy.me

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Artigo narrado por quem escreveu!

Um cenário realista sobre o futuro do design digital.

Vivemos tempos em que oportunidades raras batem à nossa porta. Talvez em nenhum outro momento da história a demanda por designers tenha sido tão alta. Estamos na crista da onda. Mas nem tudo são flores. Para aproveitarmos tais oportunidades, é necessário capacitar e aprimorar habilidades, uma vez que se diferenciar da maioria está cada vez mais difícil. Designers têm a faca e o queijo na mão para expandir seus ganhos, captar mais clientes e alavancar uma carreira internacional. Pensar globalmente e agir rápido pra enfrentar os desafios do mercado é fundamental para se destacar no mundo digital.

Após décadas, o design finalmente conquistou o protagonismo no mercado de trabalho. De agências e startups a pequenas e megaempresas, a figura do designer tornou-se essencial pra qualquer atividade relacionada à criatividade, tecnologia, inovação e disrupção.

Porém, temos os dois lados da moeda e os efeitos colaterais da supervalorização da profissão.
O excesso de demanda e a falta de oferta qualificada gerou um cenário caótico.

1. Designers e a síndrome de super herói

Virou modismo profissionais bradando aos quatro ventos que suas maiores habilidades são resolver problemas. Alguns vão além e afirmam que são experts em resolver problemas complexos. Eu me questiono sobre tamanha complexidade na qual um designer possa ser envolvido. Seria o designer um novo físico nuclear? Por que tanta ânsia em salvar o mundo?

Efeito decorrente da superpopularização do termo UX Design. Hoje é trend colocar UX no currículo, mesmo que não haja o mínimo conhecimento sobre html, css, business, vendas, finanças, economia, tecnologia, empreendedorismo, marketing, craft e até mesmo design. Inserem-se ainda nomenclaturas pomposas como UX Specialist, Designer Thinker, Innovation Expert, Disrupting Leader pra vender a falsa mensagem de que o design é o responsável por salvar o planeta, os animais, a sociedade e o universo numa síndrome de super-herói em versão digital. 

Queria ter tal poder em mãos. Realisticamente, o que fazemos no dia-dia e ao longo de nossas carreiras são projetos perecíveis que vão impactar uma parcela ínfima da população. 80% da nossa atividade são coisas básicas, triviais e vão cair num limbo digital em questão de meses. Diariamente, discuto com outros profissionais sobre qual a verdadeira relação entre criar x resolver problemas. A mim, soa um pouco vago esse desejo por consertar o mundo, visto que o design é facilmente diluído em outras disciplinas com maior relevância na sociedade. 

Do ponto de vista prático, não projetamos nada tangível. Joe Stewart, partner e designer da agência work.co, certa vez disse que designers estão mais próximo de encanadores do que artistas. De certa forma eu concordo e vou além. Encanadores resolvem mais problemas e melhoram a vida das pessoas do que grande maioria dos designers.  O glamour da profissão não reflete a realidade e o cotidiano de milhões de designers que buscam um lugar ao sol. 

O grande desafio da profissão é lidar com o amadorismo do mercado, a falta de maturidade de clientes e colaboradores, além de sobreviver à enxurrada de modismos. 

Morando em São Francisco, Califórnia, percebo como empresas e startups sofrem pra contratarem bons designers.  A demanda é gigante, mas a oferta ainda é rasa. Isso se deve ao fato de que a maioria dos profissionais não possuem visão estratégica sobre suas carreiras. Ao denominarem UX, automaticamente entram numa esfera generalista onde boas oportunidades escorrem pelos dedos. Após anos trabalhando nos EUA, percebi que, quanto mais generalista é o designer, piores são suas chances no mercado de trabalho, uma vez que é difícil traduzir com precisão qual é a maior habilidade de um UX designer. De acordo com a filosofia do Vale do Silício, a quantidade genérica de atributos profissionais enunciadas em seus perfis é inversamente proporcional à qualidade e capacidade da entrega. Antes de querer salvar o mundo, é preciso inovar o modo como tratam suas carreiras.

Temos uma crise de identidade e vivemos numa confusão existencial. Desafio alguém a explicar a diferença entre essas nomenclaturas:

  • UX/ UI designer, 
  • Product designer, 
  • Interaction designer, 
  • Visual designer
  • Web designer;
  • Unicorn designer;
  • Full stack designer;

Não basta apenas carregar nomenclaturas da moda quando não consegue se adequar à nova realidade do mercado. 

Outro ponto nevrálgico da profissão é a discussão interminável em torno de ferramentas. Como se Sketch, Figma, ou Adobe XD transformasse do dia pra noite algo medíocre num suprassumo do design. Essas ferramentas não dão superpoderes a ninguém. Sem os verdadeiros princípios e habilidades corretas, qualquer ferramenta será apenas mais uma ferramenta. 

Quem está do outro lado, pouco se importa com o software, o processo, ou o design thinking. Superar placebos,  platitudes teóricas e aprimorar habilidades é o caminho pra criar produtos e projetos que façam alguma diferença na vida de alguém. 

Exemplifico essas afirmação com o estudo de caso do meu primeiro projeto em terras gringas.
No redesign da experiencia mobile do USA Today, parte das soluções e os melhores insights vieram de engineers, copywriters e developers, enquanto o time interno de design discutia sobre dilemas irrisórios como - pasmem! - qual a melhor ferramenta pra criar uma interface.
Em 6 meses de trabalho intenso, nosso maior êxito foram quando projetos conectavam-se com o business goal do cliente. A resolução de problemas e criação de soluções eram parte de um sistema orgânico que funcionou muito bem, devido à colaboração entre diferentes disciplinas, sempre com o mesmo propósito em mente. 

A partir desse case, entendi que precisava ter uma visão de business e me desligar um pouco do lado artístico intrínseco ao design.

Outros aprendizados tangíveis que podem “empoderar" equipes de design foram:

  1. Protótipo antes, design depois.
  2. Explorar diferentes alternativas e perspectivas geram boas conclusões.
  3. Pesquisa vence jogos, execução vence campeonatos. 
  4. O produto é mais importante que o processo.
  5. Performance > Interface
  6. Maker > Thinker

Pra muitos é um choque de realidade, mas a excelência em execução aliada à visão estratégica do produto são essenciais e amplamente requisitadas pelo mercado. Querer modificar o mundo pouco importa quando se está imerso no caos. 

2. Designers não são criativos

Repararam como o design digital hoje em dia é um pastiche de si mesmo?

Mercadologicamente falando, o designer, quando criativo, torna-se imbatível. Mas tal habilidade vem sendo vilipendiada desde a ascensão de métricas de conversões. 

A busca por reconhecimento afogou a capacidade de aprimorar habilidades. O design perdeu em criatividade pelo excesso de generalização, deixando de ser uma disciplina singular, sendo submersa em métodos, processos e modismos. 

O modismo de UX Design está soterrando a criatividade. Num momento em que o números e analytics são o principal coeficiente decisório em projetos digitais, a consequência são resultados medíocres dentro de uma repetição de padrões e convenções, com a velha desculpa de conversão e geração de lead, muitas vezes baseadas em achismos e falsas afirmações. É bizarro como o mercado segue caminhos opostos à literalidade da experiência de usuário. 

Criam coisas em vez de criar coisas incríveis. É como aquele time que faz um gol e joga o resto da partida na retranca. Empate é vitória. 

A criatividade é um dos predicados com o qual o designer tem o poder de se destacar no mercado e projetar sua carreira pra outro nível. Mas ser criativo e original demanda tempo e um esforço que poucos têm o ímpeto de seguir. Não quero generalizar. Há sim, excelentes profissionais e agências por aí. Porém, é visível a queda da qualidade de produtos, serviços e processos referentes à criatividade.

Quando me refiro à criatividade, não é apenas a questão estética/visual, e sim a capacidade de resolver problemas de maneira simples, liderar equipes, gerar receitas, num esforço diário que demanda aprimorar habilidades como:

  1. prospecção = analisar oportunidades de mercado ou carreira.
  2. persuasão/negociação = convencer pessoas de que sua ideia é válida e agregá-las à sua ideia ou projeto.
  3. execução = saber tirar a ideia do papel, executá-la de maneira incrível.

A negligência nesses 3 pilares é um dos fatores responsáveis pela alta rotatividade no mercado. Virou banal designers pularem de galho em galho. Em questão de meses, já partem pra outro `desafio na carreira` sem nenhum resultado tangível e relevante. Mesmo no Vale do Silício, a carreira de um designer nas FAANG's (facebook, apple, amazon, netflix, google) é em media 1,5 anos. Até mesmos os freelancers não conseguem criar uma relação sólida com clientes. 

Perdem-se oportunidades devido à falta de capacidade para lidar com o desafio da revolução digital e a escassez de habilidades para esse novo cenário.

3. O triste fim das agências digitais

Pelo menos 90% das agências digitais não sobreviverão nos próximos anos.

Mencionei acima que um dos maiores desafios da profissão é superar o amadorismo do mercado. Depois do boom das agências digitais, o mercado está se adaptando à nova realidade da economia criativa. Das diversas formas de perder dinheiro online, uma delas é contratar uma agência digital pra criar um produto. A morosidade no processo de criação, da concepção até o resultado final, é desgastante para ambos os lados. 

Apenas agências exímias em execução e planejamento sobreviverão e prosperarão nesse cenário caótico. Unanimemente, agências julgam a si próprias como disruptivas.

Porém, segundo Clay Christensen, professor de Harvard e criador da teoria da inovação disruptiva, a  principal característica e efeito de movimentos disruptivos é quando há contestação da eficiência de mercados, o que gera uma mudança na forma de trabalho e, consequentemente, a competição torna-se global. São raras as agências que se enquadram nesse aspecto.

Listo abaixo os 10 erros que culminaram na derrocada das agências digitais:

  1. ascensão da figura do influencer;
  2. subestimam marketing, business, finanças e vendas;
  3. não possuem visão de longo prazo;
  4. não criam valor;
  5. estruturas inflexíveis;
  6. objetivos e metas não são sincronizadas com funcionários;
  7. adotam velhas práticas que impossibilitam a inovação;
  8. automatização da criação;
  9. não formam times dedicados com habilidades específicas;
  10. intermediários entre o cliente e o resultado final.

O mercado evolui numa velocidade muito rápida. Não se adequar à nova realidade pode decretar a total irrelevância de modelos de negócios praticados por agências digitais. Fenômeno natural, tratando-se de uma atividade altamente mutável, que se transforma em questão de semanas. Resta aqui relembrar com saudosismo das madrugadas comendo pizzas, criando algo sem um propósito verdadeiro. 

Novos tempos exigem novas soluções

Temos a sorte de trabalhar numa área incrível — e o azar da necessidade de atualização constante. 

Quando me perguntam como eu ganho a vida, respondo que meu papel é fazer os usuários partirem do ponto A para o ponto B através de uma experiência extremamente satisfatória (muitas vezes, imperceptível) em questões de execução, estética, performance, narrativa e praticidade.

O designer precisa viver eternamente em modo beta. Constante atualização é um fator primordial pra quem deseja ser bem sucedido na área.

Clientes demandam agilidade e transparência x Empresas demandam profissionais com autogestão e capacidade de execução.

Cabe aos designer se adaptarem nesse cenário. Ações rápidas e assertivas podem fazer a grande diferença em carreiras e negócios. Desprezar o poder da execução e gestão pode custar caro em tempos de grande concorrência. 

Atualmente, um designer com as habilidades corretas pode facilmente capturar grande parte da fatia do mercado que é atendida por agências digitais. 

Para aqueles que dominam a parte estética e tecnológica (html, css, javascript) basta inserirem habilidades complementares para se tornarem imbatíveis. A demanda digital cresce na mesma proporção dos desafios. Continuarão no jogo aqueles que lapidarem seu potencial criativo como:

1 - Buscar por conhecimento

É expressamente fundamental um designer `moderno` conhecer o mínimo sobre html, css, javascript e seus conceitos básicos. Não digo que designers precisam saber programar. É necessário entender o modo como algo estático será traduzido numa linguagem de programação e como será o funcionamento de uma interface em browsers e dispositivos móveis.

2 - Conhecer sobre negócios

Como disse Bill gates:  "Em pouco tempo só existirão dois tipos de negócios: os que estão fazendo negócios na internet e os que estão fora dos negócios."

Além de aprimorar quesitos técnicos, é fundamental dominar a linguagem dos negócios. Saber o básico sobre termos como Churn Rate, MMR, SEO, CRO, ROI, ROIC, ebtida, customer success, SaaS, venture capital, valuation, fund raising entre outros, fará uma enorme diferença em suas carreiras.

Disclaimer: inserir novos conhecimentos no seu repertório profissional não fará de você um profissional generalista. Generalidade profissional é quando alguém faz uso de habilidades pulverizadas de pouco impacto tangível.  

3 - Focar no longo prazo

Stick into the game plan — é um dos termos famosos nos EUA sobre desenvolvimento de projetos e negócios. Uma vez traçada a estratégia, siga firme nos seus objetivos e tenha um plano de metas estabelecidas. 1% ao dia é suficiente para criar um impacto gigantesco no longo prazo. 

4 - Saber executar

Como tirar uma ideia do papel.
Como criar um MVP (minimum valuable product).
Como prototipar em alta fidelidade.
Como desenhar diretamente com código.
Como não ser apenas `mais um` designer.


Seja um profissional moderno e disruptivo. Questione a eficiência do seu meio. Destaque-se e seja o profissional preparado pra vencer no mundo digital.

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Vitor Guerra
vitor@pulegada.com.br
JP Teixeira
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Brand Designer no Webflow em São Francisco California. Quase duas décadas de experiência na área, trabalhou em agencias como Gringo, Possible World Wide e HUGE. Já passou por Curitiba, Rio de Janeiro, São Paulo, Washington DC. Co-fundador da marca Milkes, é consultor de 2 startups no Vale do Silício e investidor de 3 startups no Brasil. Criador da plataforma superskills.com.br — Designer durante o dia, marido e pai durante a noite.

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