- Ah… mas isso vai ser impossível de implementar…
- De jeito nenhum que segurança da informação vai deixar…
- Não temos serviço para esse tipo de funcionalidade…
- Para! Ainda estamos muito longe de pensar assim! Vamos fazer o básico…
… e poderia ficar mais umas 16 horas descrevendo todas frases (des)motivacionais que, assim como eu, diversos colegas designers devem ter ouvido em suas desventuras iniciais em grandes empresas.
Soa desanimador, não? Pois é, amigos… a novidade é que essa realidade está mudando bastante (apesar de que, para nossa ansiedade, a passos bem mais lentos que gostaríamos).
E explico:
O movimento de internalização de equipes de design parece irreversível. Grandes corporações vêm optando cada vez mais por criar suas equipes, inserindo metodologias e profissionais especialistas em seus planejamentos financeiros.
O problema constatado é que essa internalização acontece na maior parte das vezes de uma forma meio desesperada e desordenada. Tipo: PRECISAMOS ter. Mas precisamos por quê?
Isso por muitas vezes gera um efeito reverso: sem justificativa ou planejamento aparente, o profissional se sente abandonado. Como o mercado está cada vez mais selvagem, o turnover aumenta, as reposições são mais complexas/demoradas e sofremos cada vez mais da escassez de profissionais experientes e competentes.
É justamente essa falta de conhecimento que abre um campo de possibilidades para 2020 (que poderia ser em 2019, 2018, mas temos que começar algum dia, não é mesmo?).
A propósito: Todas as “previsões” a seguir tem 2 características:
A conversa começa e o designer sempre é o cara das telinhas e dos botões coloridos, certo? Depende! O discurso muda tudo. E as atitudes, também.
Todos esperam uma execução imediata e mecânica que possa resolver facilmente seus problemas, como que saída de um manual ou receita pronta. E, apesar de nossa essência ser resolvedora de problemas, na maioria das vezes os demandantes envolvidos NÃO SABEM qual o problema.
A discussão não começa em derrubar argumentos, mas em mostrar a origem dela. Por que estamos aqui? O que viemos discutir? De quem são as dores que temos que resolver?
- Sim, senhor Óbvio… E quais são os números da mega sena?
Um fator fundamental é a conquista logo no início. Fazer pessoas chave se sentirem parte da solução é o pulo do gato. Quanto mais envolvidas estiverem logo na largada, mais engajadas em ajudar estarão.
Começando certo, a possibilidade de sucesso é maior. Para consertar depois, o trabalho é mais árduo.
Um dos papeis do designer é usar a sua visão romântica, carregada de propósito, nesse momento. Os valores precisam estar muito claros e os stakeholders precisam perceber nesse momento o quanto ele é importante e o quanto vai ser divertido participarem dessa concepção de solução.
- Mas eu já faço isso! E parece que ninguém me entende! Às vezes, até trabalham contra!
Aí vai o nosso exercício diário de humildade. Somos muito importantes para desenhar soluções. Assim como o cara de negócios, a desenvolvedora, o gestor do produto e os outros envolvidos no projeto.
Sendo designer, somos parte de uma máquina gigantesca que precisa funcionar em harmonia. Imagina se uma dessas engrenagens resolve parar…
- Tá certo… Mas, ainda assim, parece que o benefício não é tão percebido. Afinal, muita energia dispensada para convencer pessoas. Por que comprar toda essa briga?
É verdade. Processos e burocracia parecem não ter fim. Mas pense: Atingimos milhões de pessoas. Serviços cada vez mais personalizadas se fazem necessárias, mas as pequenas ações necessárias e, por vezes, negligenciadas atingem muitas pessoas de uma só vez.
E, para apimentar, mais uma obviedade do dia - de efeito e referência:
Grandes poderes, grandes responsabilidades — Parker, Ben (Uncle)
Seu propósito precisa estar bem lapidado e alinhado com o que está fazendo, justamente para não se frustrar.
Aliás, outra grande vantagem é que o designer vai desenvolver skills que nunca imaginaria que pudesse: a persistência, a negociação, o foco no resultado, o desprendimento, o poder de síntese.
Sim, é difícil. Não longe de ser impossível.
Sim, vai demorar. Mas vai acontecer.
Afinal, algo que funciona há tanto tempo do mesmo jeito, por mais que possuam pessoas engajadas, tende a demorar mais para mudar.
Sim, design é fundamental. Mas precisa fazer sentido para a empresa.
Sim, vamos mudar a vida de muita gente. Pra bem e, se não fizermos direito, pra mal.
Estamos aqui para resolver problemas. Somos advogados dos usuários. Precisamos fazer com que a experiência realmente faça sentido e tenha elementos que a caracterizem como memorável. Mas, acima de tudo, a não ser que estejam trabalhando para empresas do 3º setor, a solução precisa mexer ponteiros.
Apresentar os resultados é fundamental para que sejamos ainda mais relevantes. Voltando à parte didática - eventualmente, existem casos onde os indicadores não são tão claros ou nem mesmo existem.
Nossa responsabilidade aumenta ainda mais em mostrar como mensurar o impacto que o design teve naquele projeto.
Fazendo com que o cliente perceba que está no lugar certo, na hora certa, resolvendo o problema dele da melhor forma que ele poderia (ou não) imaginar.
Que o valor percebido seja tamanho, que ele aceite/se sujeite a compensar aquela solução - com sua preferência, sua fidelidade ou, pasmem, com seu dinheiro!
Não a qualquer custo, enganando-o com black patterns ou pacotes especiais (que só são especiais para o negócio).
Design nunca foi luxo, por mais que pareça, à primeira vista, para não-designers.
Pequenas conquistas precisam ser comemoradas, mas não consideradas permanentes e suficientes.
Vivemos numa geração onde, apesar de não termos o poder total de mudar, nunca tivemos a voz tão reverberada. E o mais bacana: em proporções industriais!
E aí, deixaremos cada vez mais claro que estamos presentes nas vidas das pessoas não para sermos só diferentões, mas para resolvermos problemas, trazendo simplicidade na solução.
Afinal, como já disse Paul Rand:
Don’t try to be original, jus try to be good
No mercado de Design, Comunicação e Internet desde 2002. Atualmente a frente da equipe de design do Santander Brasil, com 18 profissionais com diferentes skills: service, product e visual designers, researchers, estrategistas e generalistas. Participou da concepção e evolução de portais de grandes empresas, destacando-se Credicard, Cetelem, Porto Seguro e, mais recentemente, do Banco Santander Brasil. Já criou campanhas, estratégias, produtos e ações digitais, nas áreas de Criação e Planejamento, para clientes como Fiat Group (Fiat/FPT/Case-NewHolland), Totvs, Itau-Unibanco, Natura, GVT, Qualcomm, Veja, Bayer, Bohemia, Nextel, Cartoon Network, Bouts, entre outros.