Empreender não é sinônimo de sucesso, mas de esforço incondicional para que a aposta seja bem-sucedida. Nem sempre esse desejo se faz realidade em uma primeira tentativa. Portanto, é perfeitamente normal se não der certo de primeira. Lidar com a frustração é uma das primeiras lições que se conquista nesse universo.
O esforço é mais pesado para as mulheres devido a diversas questões não ligadas diretamente ao trabalho. Trata-se de aliar a família, o estudo, a vida pessoal e o trabalho ao empreendedorismo (leia-se desdobrar-se da redação do contrato ao fazer o cafezinho), considerando que nem sempre contamos com apoio nas atividades do dia a dia. Por isso é importante incentivar e acolher as mulheres em espaços de negócios.
As atividades listadas são algumas dentre tantas que demandam atenção e tempo -- esse último, um dos grandes obstáculos para as mulheres que encaram jornada tripla ou quádrupla. A soma de oito horas de trabalho com as atividades da família e da vida pessoal deixa só a madrugada para colocar projetos em prática. É um trabalho realmente pesado (e logicamente, não deveria ser assim), mas, com paciência e respeito aos próprios limites – outras lições que se aprendem ao longo da jornada –, as coisas começam a acontecer.
Este artigo se baseia nas respostas em comum de profissionais mulheres que, por meio de um questionário, toparam compartilhar um pouco da experiência de empreender.
A grande porta de entrada para o empreendedorismo é freelar. Cerca de 75% das respondentes afirmam que iniciaram sua empresa com trabalhos extras em relação ao CLT. Com o tempo a demanda cresceu até o ponto em que tiveram de fazer um CNPJ e começar a organizar a estratégia de atuação no mercado. O tempo de freela durou em média seis anos -- por aí já dá pra ter uma base do quanto pode durar a dedicação dupla entre CLT e CNPJ. Nesse período são desenvolvidos resiliência e paciência, assim como se aprende a lidar com frustrações. Se você está nessa jornada, continue, lá na frente os resultados aparecem.
Outro ponto que ficou evidente foi o desejo de empreender logo no início da carreira. A liberdade e a autonomia que o empreendedorismo suscita se mostraram um grande atrativo para as profissionais. Também contou o fato de poder criar o próprio processo de trabalho e ter uma estratégia bem definida. Mas nem tudo são flores. A passagem de empregado a empreendedor ocorre, em geral, na faixa etária dos 25 a 26 anos. Provavelmente por isso, as respondentes afirmaram que questionamentos sobre credibilidade dificultam o processo. Por isso é importante desenvolver um discurso coeso e aliá-lo à operação -- aí está o pulo do gato. A dica aqui é entrosar prática e discurso, bem como buscar uma execução à altura dos desejos. Tudo isso toma tempo e é um eterno aprendizado.
Na universidade aprendemos a executar e a pensar o design. Temos acesso a conhecimentos sobre alinhamento, cores, layout, ergonomia, pesquisa, um pouco de marketing, entre outros. No entanto, administrar é essencial à saúde do negócio. Quanto cobrar? Como cobrar? Como construir um contrato? Como calcular os custos com o fisco? Contratar freelas para ajudar ou já contratar alguém? Como fechar a contabilidade?
As preocupações apontadas por 90% das respondentes giram em torno de questões fiscais e contábeis. Daí a necessidade de organizar as entradas e as saídas, adquirir a mania louca de guardar notas fiscais, criar uma planilha com os custos fixos e os variáveis, criar projeções. Pensando nisso, adotamos uma planilha para começar a organizar a casa.
Ultrapassando as barreiras burocráticas, 90% das respondentes apontam que contratar e manter talentos é um grande desafio. Isso tem muito a ver com a estratégia e o propósito que se cria ao longo do percurso. Nessa transição é importante ter por perto pessoas que curtem a ideia e trabalhem de igual para igual. O tempo de treinamento pode custar caro quanto está nesse momento de crescimento, pois é quando você começa a focar no negócio e deixa um pouco de lado a parte operacional. Ter em quem confiar e que consiga tocar as demandas de maneira autônoma e independente faz a diferença. Além, é claro, de manter a qualidade das entregas. O ponto de equilíbrio entre estratégia, gestão de pessoas, valores e qualidade é um trabalho constante e não existe receita de bolo. Testar e se movimentar é uma premissa para alcançar o equilíbrio.
Existem dias difíceis, em que se demora a pegar no sono. Nesses dias, a gente se sente muito pequena e incompetente, mesmo sabendo que isso não é verdade. Outras vezes a preocupação gira em torno do tempo escasso. Sempre falta tempo para tudo! Superando contratempos do dia a dia e de excesso de trabalho acumulado, um dos pontos levantados pelas entrevistadas está relacionado à aprovação de outras pessoas.
Um dia vamos nos deparar com pessoas que nos colocarão contra a parede com o objetivo de saber se entendemos do que estamos falando. O conselho das empreendedoras que responderam o questionário é que empreender depende de doses generosas de ousadia e loucura. Acreditar no que está fazendo e confiar na qualidade do próprio trabalho apequenam esses obstáculos. Um contrato consistente e uma sociedade transparente ajudam nessa hora de pressão.
Eta princípio difícil de aplicar… Mas ter pessoas que dão suporte no operacional possibilitam à empreendedora se concentrar na estratégia e pensar o negócio. Então é imprescindível abrir mão de trabalhar com o layout – que vive no nosso coração e, claro, a gente não consegue liberar um projeto sem dar um alinhamento aqui, trocar uma fonte ali. No mais, procure alguém bom nisso e seja feliz!
É chover no molhado falar da dificuldade que envolve juntar dinheiro. Mas freelas são uma oportunidade de fazer uma reserva e dispor de segurança financeira para quando chegar a decisão de se dedicar 100% a uma empresa própria. A reserva é importante para você dar o valor correto ao seu trabalho, além de trabalhar apenas com projetos nos quais você acredita. É um mito a ideia de que empreender é ter flexibilidade. Isso é folclore! Trabalhar de madrugada e nos finais de semana é comum. Por isso ter uma reserva para dosar esse esforço é muito importante.
A força física já foi a dominante na história da humanidade até que a automatização veio auxiliar a força de trabalho. Ao contrário do que dita o senso comum, sensibilidade e emocional na utilização de serviços e produtos são hoje diferencial competitivo. Mulheres têm abertura na sociedade para buscar o que não está à mostra na superfície. Podemos acessar questões sensíveis, extrair informações emocionais e trabalhar com elas.
Empreender é tarefa difícil, mas, nós, mulheres, já enfrentamos adversidades e muitos questionamentos sobre nossa força emocional e capacidade de execução, mas desistir não é o melhor caminho. Precisamos enfrentar e conduzir a nossa maneira, romper a barreira tempo vs burocracia, respeitar nossos próprios limites, entender que errar faz parte do rolê. Além de tudo isso incentivar outras mulheres a trilhar o caminho dos negócios.
Mana, manda ver!!!
Participaram da construção desse artigo as empreendedoras das empresas
Sensorama Design, Catarinas Design, Kofe, Bona, Ideativo Design, Saiba+ e Zoly, Padrinho agência de conteúdo
Muito orgulho de vocês, garotas! Obrigada ♥
Co-fundadora do Ideativo Design e UX Overtake, especialista em UX Design (UFSC), mestre em Design (UDESC), escritora do uxdesign.cc Brasil, organizadora do Interaction South America 2017.