Design como ferramenta de exclusão social

Diego Rezende
UX Lead
,
Hospital Israelita Albert Einstein
UPDATE:

A pandemia mudou tudo em 2020.
Por isso este artigo foi revisitado por quem escreveu em entrevista para o UXNOW com apoio da Deeploy.me

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O design deve ser colaborativo e para todos. Quantas vezes já ouvimos isso? Quantas vezes nós acreditamos nisso? Mas, quantas vezes nós fizemos escolhas que prejudicaram a vida do usuário? E não se engane, todos já fizemos.

O termo “exclusivo” no Brasil sempre teve uma conotação positiva, carro exclusivo, serviço exclusivo, cliente exclusivo. Mas o que exclusivo realmente significa? - Fácil, excludente. -

Quando projetamos produtos e serviços exclusivos, estamos propositalmente retirando das pessoas a possibilidade de utilizar a nossa solução. Para algumas pessoas isso significa valor, a escassez torna o produto e/ou serviço mais desejável. Mas aí você começa a colaborar com uma sociedade cada vez mais consumista e hedonista e, sim, o designer tem um papel fundamental na construção social que temos hoje.

Nós como designers nos vemos como responsáveis por projetar experiências, e dai já estamos errados, ninguém projeta isso.Experiência é algo como CPF, pessoal e intransferível, cada pessoa experiência o mundo de acordo com sua vivência e repertório pessoal. Por conta disso, já seria impossível projetar experiências, o máximo que conseguimos é projetar produtos e serviços com menor atrito e melhor relacionamento possível. A experiência depende da existência de uma pessoa utilizando para se concretizar.

Portanto, projetamos produtos e serviços para resolver o problema de alguém, mas cada vez mais estamos resolvendo um problema e criando outro. O maior exemplo disso? A criação da "Gig economy", também conhecida como Uberização e, mais corretamente, precarização das relações de trabalho. Quando analisamos a fundo produtos como compartilhamento de carros, delivery de comida, entre outros, estamos vendo a exponencialização de problemas sociais. Pessoas que precisam trabalhar 14, 16 e às vezes até 24h para receber menos de um salário mínimo, a vida do usuário final ficou, sem dúvidas, mais fácil e mais barata. Mas o impacto social que estamos criando é quase tão grande quanto o impacto positivo na vida das pessoas.

A economia que é vista como futuro, com freelancers ou no melhor do nosso português "bicos", não é baseada em oferta e demanda, como dizem. É baseada em precarização e tempo. Isso mesmo. TEMPO versus PRECARIZAÇÃO. As pessoas que não têm tempo e utilizam esses serviços geralmente têm dinheiro e possuem algum tipo de segurança financeira, o que compra a segurança e a força de trabalho de quem tem tempo, também conhecido como desemprego. Logo, estamos financiando uma economia que vive do subemprego, e ainda pior, estamos projetando para que ela seja assim.

Estamos deliberadamente colocando as pessoas que já são historicamente marginalizadas em situações cada vez piores para manter o seu sustento. E por que fazemos isso? Porque projetamos para nós mesmos e para nossa bolha imediata, e por mais que os designers digam que não estão fazendo isso, nós estamos sim. E cada vez mais. Quantas pessoas de classe baixa fazem parte da sua equipe? Qual a última vez que uma pessoa que você entrevistou, realmente fez parte da sua decisão de design ou da decisão de negócio da sua empresa? Inclusão não é só fazer pesquisa com usuários e ter empatia. Inclusão é incluir essas pessoas no seu processo, permitindo que elas também façam parte da tomada de decisões. É muito difícil empatizar com uma pesquisa, com um texto, mas é fácil empatizar quando a pessoa está do seu lado tomando decisões difíceis com você, trazendo a perspectiva dela na solução.

E isso acontece porque o Design se tornou aquilo que repudia: elitista e restrito. Poucas pessoas têm acesso e menos pessoas ainda botam a mão na massa. Philippe Starck, o criador do espremedor-aranha que estampa a capa do livro "Emotional Design", diz que o design está morto porque nós estamos utilizando ele apenas para gerar dinheiro para poucas pessoas. Em uma reportagem, ele diz sobre o iPhone: "Existem dois problemas nesse aparelho. O primeiro é que ele utiliza trabalho escravo para ser construído, e o segundo é que ele custa caro demais por ter sido feito utilizando trabalho escravo". A fala é um tanto quanto incoerente, pois Starck ficou milionário projetando produtos para pessoas como Steve Jobs e o ex-presidente da França, mas o ponto é: nós nos fechamos em uma bolha em que acreditamos que estudo, viagem e conhecimento são as características que grandes designers precisam ter para serem bons. Mas isso tudo é elitista, nem todos podem arcar com estes custos. É irreal um designer que já mochilou pela Europa desenhar um serviço para a classe C sem nunca ter pisado em uma periferia, sem saber geograficamente onde se encontra o Capão Redondo ou a favela da Maré, que acabam criando economias paralelas para poder existir e resistir. O design em si não é proibido para ninguém, mas o seu acesso vem se tornando cada vez mais proibitivos, salvo excelentes exceções como o caso do UX para Minas Pretas.

Muitos designers se fecharam em um mindset colonizador e restritivo, em que acreditam que o design vai salvar o mundo e as pessoas, mas nós não vamos. Nós solucionamos problemas, sim, mas nós não resolvemos os grandes problemas, nós entregamos aplicativos melhores e sistemas de chatbots mais inteligentes, mas o quanto estamos contribuindo para o fim da fome? Para o fim da pobreza? Para o fato que já existem mais imóveis vagos do que pessoas sem teto nas grandes metrópoles ocidentais? Nada, pois nossa visão é holística quanto aos problemas que queremos resolver e não no sistema em que ele se encaixa. Por exemplo, quando atacamos um problema da relação das pessoas com seus bancos, entendemos como as pessoas gastam, como se comportam com o banco, focamos no problema principal, excluímos os secundários e entregamos bancos digitais sem taxa e aplicativos de empréstimos a juros mais baixos. Resolvemos os problemas da melhor forma possível, mas as taxas de inadimplência continuam crescendo, os índices de desigualdade estão maiores do que eram há 10 anos e as pessoas simplesmente não conseguem poupar dinheiro. E por quê? Quando abordamos o problema de forma linear, esquecemos do sistema e dos problemas que o envolvem. Não poupar dinheiro não é referente apenas à educação financeira, mas também a salários precarizados, inflação, falta de perspectiva, entre outras coisas. Nós estamos, mais uma vez, excluindo da nossa solução aquilo que não nos serve e entregando apenas aquilo que nos faz bem.

No Ethical Design Manifesto,  criado em 2016 de forma colaborativa, foram decididos três princípios básicos para um design inclusivo e ético e que todos nós deveríamos pensar:

Diretos humanos

O design deve ser descentralizado, aberto, distribuído, democrático, acessível, seguro e sustentável para as pessoas.

Esforço humano

O design deve ser de fácil operação, consistente, confiável e funcional para as pessoas.

Experiência humana

O design deve ser prazeroso e agradável para as pessoas.

Basicamente é colocar as pessoas no centro de tudo, mas de uma perspectiva humana e não financeira. Antes de consumidores e stakeholders, nós somos humanos. Todo design que projetamos deve levar em conta o bem-estar coletivo e os direitos básicos e universais de cada pessoa. Devemos colocar as pessoas no centro de tudo e empoderá-las para que elas possam tomar decisões e tenham acesso às novas soluções. A próxima grande revolução digital precisará ser social e inclusiva, ou simplesmente não se sustentará para as próximas gerações. Nosso design deve deixar de ser linear e ser mais circular; é mais sobre projetar a melhor experiência dentro de um restaurante, é sobre projetar esse restaurante e saber se suas hortaliças não utilizam trabalho escravo, se seu lixo reciclado chega no destino e se a pessoa que faz a limpeza um dia possa comer lá com seu próprio salário, sem comprometer a sua dispensa no final do mês. Ou nosso projeto inclui todas as pessoas e torna todo o ecossistema melhor, ou ele não deve sair do papel. Dessa forma, podemos deixar de sonhar com um mundo melhor e, de fato, projetá-lo.

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Diego Rezende
UX Lead
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Hospital Israelita Albert Einstein

Atualmente UX Lead no Hospital Israelita Albert Einstein, vem disseminado a cultura de transformação digital e design dentro da companhia. Graduado em Publicidade e com especialização em Comunicação Digital, atua como UX designer há 10 anos. Já tendo atuado na concepção de vários sites e aplicativos, como Itau Mobile, E-commerce Pão de Açucar e Interface do programa Smiles. Nos últimos anos vem se dedicando ao treinamento e disseminação das metodologias de Design Thinking em workshops e com mentorias em Hackathons empresariais. Tem passagens por Abril Digital, Saiba +, TOTVS e Embraer.

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