Dia da Marmota

Daniel Furtado
Designer
,
Wezen e UXNOW
UPDATE:

A pandemia mudou tudo em 2020.
Por isso este artigo foi revisitado por quem escreveu em entrevista para o UXNOW com apoio da Deeploy.me

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Artigo narrado por quem escreveu!

- Phil? Phil? Phil Connors?
- Ned? Ned Ryerson?
- Phil? Phil? Phil Connors?
Phil dá um soco na cara de Ned.

Esse é um dos múltiplos diálogos engraçados do filme Groundhog Day, Feitiço do Tempo, em Português. A comédia, de 1993, é estrelada pelo gênio do humor Bill Muray e conta a história de um jornalista sarcástico e cínico – o Phil do começo do texto – que recebe uma punição do universo: Viver o mesmo dia novamente, novamente, novamente e novamente. 

É estimado pelos críticos que o protagonista fica preso por 33 anos no mesmo dia, apesar de originalmente o roteiro prever que ele ficasse 10.000 anos no loop temporal. 

Foi o tempo suficiente para Phil conhecer TODAS as pessoas da cidade, aprender a tocar piano, virar um escultor de gelo, ser esfaqueado, enforcado, congelado, eletrocutado e tido vários tipos de “mortes”.

Não importa o que o Phil faça, quando ele dorme acorda no mesmo dia e todas as coisas acontecem novamente na mesma ordem. Ele pisa na mesma poça d’água, cumprimenta a mesma pessoa, vê o mesmo homem idoso tendo um ataque cardíaco e encontra novamente a colega de trabalho vivida pela Andie MacDowell – que acaba sendo o par romântico do Bill Murray e ensina para ele que “o homem perfeito é muito humilde para saber que é perfeito”. 

Conforme a história se desenrola Phil percebe que suas próprias ações e reações mudam (levemente) os acontecimentos do dia e ele pode arriscar fazer o que quiser. “Eu posso comer o quanto eu quiser – sou imortal”, diz ele numa cena. No dia seguinte ele acorda e tudo começa da mesma maneira.

Phil está preso num mesmo dia que nunca acaba. Tudo a sua volta é igual. A única coisa que muda é ele. E a mudança nele mesmo é que acaba quebrando o feitiço, me desculpem pelos spoilers, mas somente quando ele passa a ser honestamente uma boa pessoa ele foge da prisão temporal.

O ano é 1998...

e o engenheiro Alan Cooper lança o livro “The Inmates Are Running the Asylum”, uma tese sobre como o universo de construção do software estava contando com práticas erradas e potencialmente perigosas para os usuários. Ele confronta a forma como tudo era criado, principalmente a lógica invertida onde os programadores é que definem o aspecto final de um produto digital. 

Vários pontos centrais do livro são importantes e eram então praticamente inéditos na indústria do software: desenvolver um software é uma tarefa muito complicada e por isso os programadores possuem um conhecimento desproporcional sobre computação em oposição aos usuários; que em vários empreendimentos humanos o trabalho em equipes interfere na construção do produto; que um dos objetivos do usuário ao usar um produto é “não se sentir estúpido”; que se fazemos um produto para agradar a todos não estamos agradando ninguém e, finalmente; que um software deveria ser criado por designers antes de ser programado.

Algumas ideias fundamentais sobre design de interação foram explicadas nesse livro como a utilização de personas, objetivos de usuário e cenários de uso. 

Além do livro “The Inmates Are Running the Asylum”, Cooper também é autor de um dos meus livros favoritos, “About Face: The Essentials of Interaction Design”. Aqui ele revê os conceitos descritos no livro anterior e é mais didático em explicar sua abordagem de design – o design centrado no usuário orientado a objetivos. Ambos os livros são incrivelmente úteis para quem trabalha no mundo do design e desenvolvimento de softwares.

Cooper usa uma linguagem sarcástica e cínica, um pouco o Phil Connors do começo desse texto, e talvez por isso não seja um autor tão comemorado quanto o sempre fofinho Donald A. Norman. 

Atualmente Alan Cooper escreve artigos e cutucadas para quem é designer e desenvolvedor no seu Twitter (https://twitter.com/mralancooper) e Medium (https://medium.com/@MrAlanCooper). Sugiro que vocês o acompanhem pois o homem é um gênio.

Hoje em dia, 21 anos depois do lançamento do livro, algumas ideias do Alan Cooper são faladas como se fossem uma novidade e como se vivêssemos o mesmo dia novamente, novamente e novamente.

Como num conto de ficção fantástico, as vezes parece que a evolução da nossa profissão está aprisionada numa prisão, enfeitiçada num loop perverso onde tudo sempre começa de novo. 

Você sente que os processos não progridem? Que o diálogo retrocede ao invés de evoluir? Que precisa explicar sempre que “uma persona é importante para entendermos melhor quais os objetivos de nosso usuário típico”. Ou, mais óbvio ainda, falar como um mantra – um grande ommmmmmmmm diário – “que tal validarmos se é isso mesmo que os usuários desejam e precisam?”.

Eu as vezes me sinto assim, sinto que estou preso e que todo dia escuto a mesma coisa. Escuto a mesma pergunta dos meus clientes – “Eu vi que aqui você colocou um ícone e aqui você não colocou. Por que?”. 

Diferente das pessoas que interagem com o Phil, todos os coadjuvantes da sua história vivendo as suas vidas de um único dia, o Phil tem a memória de tudo o que aconteceu. Ele sabe que pode fazer diferente. Ele sabe que consegue outros resultados mesmo com tudo ao seu redor sendo igual. Phil sabe que a mudança depende dele e não dos outros.

O ano é 2020. É um ano mágico. Arredondado. Um par de números. Um ano a mais de Blade Runner. Um ano depois de Akira. Um ano fora de uma década “teen”. Um ano que agora é um novo loop. 

Assim como Phil sabe que a mudança depende dele, a mudança depende da gente. 

Temos que entender o que já foi feito. O que já está escrito. O que já foi testado. O que é amador. O que é profissional. O que leva a gente para a frente. 

Muito mais do que levar a nossa profissão para a frente, a nossa bandeira, o nosso ommmmmmmm, o que fazemos para levar o nosso usuário para a frente? Que evolução permitimos que os outros tenham?

Phil entendeu que precisava ser humilde para atingir uma perfeição. Que a história é de todos os moradores de Punxsutawney e não só dele. 

Nosso processo de trabalho não é centrado no design. A humildade do diálogo sem sarcasmo e o empoderamento das nossas equipes, com o objetivo do empoderamento do nosso usuário é a quebra do feitiço.

Não precisamos acordar todo dia com um despertador e uma música tocando igual, igual e igual. Podemos agir como adultos, agora que a década não é mais adolescente?

Termino com uma frase que amo do Alan Cooper: Se queremos que nossos usuários gostem do nosso software devemos projeta-lo para que ele se comporte como uma boa pessoa: Seja respeitoso, generoso e prestativo.

Assim como o Phil Connors que quebrou o feitiço.

Feliz ano novo.

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Daniel Furtado
Designer
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Wezen e UXNOW

"Eleito ""Profissional do Ano 2018 / Categoria UX"" pelo Prêmio Digitalks, Fundador da Wezen e com 24 anos de experiência em design, acredita que produtos e serviços poderiam ser bem melhores do que são. Criou o canal UXNOW para explicar sobre UX, Design Centrado no Usuário e Arquitetura da Informação. Como professor, lecionou em diversas disciplinas relacionadas à design e UX (IBTA\Metrocamp\Véris, PeopleTec, Iladec, Faculdade Impacta Tecnologia, Puc Campinas, MBA USP-ESALQ, entre outros)."

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