Não é de hoje que a discussão sobre o nosso mercado fala de uma possível bolha de UX, existem várias publicações que abordam esse tema e propõem uma reflexão a respeito. Existem muitos sintomas dessa bolha facilmente observáveis no nosso cotidiano, certamente você já deve ter se deparado com alguns dos exemplos a seguir:
Mas há ainda quem duvide que esses sinais indiquem a existência de uma Bolha de UX.
O termo bolha vem das especulações econômicas, e é a uma ocasião em que o valor ou preço de um ativo apresenta uma intensa inconsistência no valor/preço desse ativo, sem nenhuma motivação diretamente relacionada ao ativo. E isso já aconteceu repetidas vezes na história da humanidade, vou citar alguns exemplos:
No século 17 aconteceu a considerada, até hoje, a primeira grande bolha especulativa da história mundial. Na Holanda, houve uma onda de histeria coletiva por tulipas exóticas, causando um aumento absurdo no preço dessas flores, ao ponto de pessoas venderem suas casas e outros bens de valor para comprá-las.
Conhecida como a Crise de 1929. Uma imensa onda de especulações levou milhares de pessoas a investirem no mercado de ações, endividando-se para adquirir títulos da bolsa. Até que a queda dos valores ao longo do tempo culminou num pânico generalizado que levou ao colapso da Bolsa de Nova York, levando milhares de pessoas e empresas à falência.
A também conhecida como bolha das "pontocom" surgiu com a popularização da world wide web (WWW), o valor de mercado das empresas de tecnologia aumentaram descontroladamente, investidores correram para adquirir mais e mais títulos que se valorizavam irracionalmente. Até o que o mercado percebeu que essas empresas não eram rentáveis como a especulação indicava, e a bolha estourou.
A crise econômica mundial mais recente teve origem nas chamadas "hipotecas podres", conhecidas no mercado por "subprime", créditos com juros altos concedidos pelos bancos a pessoas que não tinham capacidade econômica para assumir as dívidas, o que levou ao estouro da bolha e à última grande crise econômica que vivemos.
Como podemos perceber, exemplos não faltam, e é justamente por essa repetição de bolhas que o termo acabou sendo incorporado ao nosso vocabulário para descrever todo e qualquer crescimento desenfreado de um modelo, mercado, profissão ou disciplina, sem uma razão racional e lógica.
Sempre que há abundância de crédito para pessoas físicas ou jurídicas, fazendo com que elas tenham dinheiro extra para investir em ativos, somado à gestões com baixa maturidade econômica e/ou o advento dos modismos e histerias coletivas sobre um determinado tema, configura-se o cenário perfeito para surgir um novo tipo de bolha: imobiliária, startups, criptomoedas, futebol, UX etc.
Nesse sentido, podemos observar que o mercado de tecnologia, no qual o UX também está inserido, possui alguns sintomas que se apresentam como possíveis causas dessa bolha:
Em uma rápida análise, puramente empírica e baseada nas informações disponibilizadas em artigos e pesquisas como as da @SaibaMais, acredito que os efeitos imediatos que a bolha do UX causam são:
Numa pretensiosa tentativa de imaginar possíveis consequências futuras vejo 2 caminhos para nosso mercado de UX:
E para 2020 em diante, acredito verdadeiramente que a bolha de UX vai estourar e nós, como profissionais da área, precisamos ser muito honestos ao refletirmos se estamos contribuindo para inflar a bolha ou se estamos colocando nossos esforços para dar mais solidez ao nosso mercado.
É tempo para se posicionar e dizer não às vagas com descrições e critérios duvidosos, não ao UX de Marketing, não aos salários absurdos para quem ainda não tem bagagem, não aos aproveitadores mal intencionados que exploram o hype do UX para fazer grana a qualquer custo.
Precisamos ser mais economicamente maduros para que nosso mercado de UX torne-se cada vez mais forte e genuinamente relevante.
Paulistano morando no Rio. Nipobrasileiro com 34 anos.Apaixonado pelas abordagens do Design Centrado no Usuário. Me interesso muito pelos paralelos e conexões conceituais fora do trivial e pela análise das motivações e comportamentos das pessoas. Hoje eu atuo como Head de UX do DigitalLAB da VALE.