Graças à inovação digital, pessoas com deficiência têm tido mais oportunidades de usar milhares de produtos e o UX (User Experience) tem sido importante para reconhecer as dificuldades de usabilidade que possam ter. O que é fundamental para empresas que visam alcançar um maior número de clientes através da acessibilidade.
Pensando nas possibilidades que a tecnologia oferece para diferentes perfis, é cada vez mais necessário explanar hipóteses gerais para se dimensionar a variedade de usuários e buscar entregar soluções que atendam as necessidades de todos.
Para explicar Acessibilidade, UX e Dados como soluções amplas, irei exemplificar uma hipótese considerando a interação do usuário com o produto e serviço.
Vamos lá?
Imagine o cenário em que um aplicativo tem como solução ajudar as pessoas a buscarem restaurantes com boa classificação próximos da localização que elas se encontram. Essa classificação é feita através das avaliações por pontos e comentários dos próprios usuários.
O sistema foi criado com boas práticas de design e funções para acessibilidade; surdos, mudos, cegos, paraplégicos e daltônicos usam sem nenhuma dificuldade.
Imagine também, que um rapaz deseja levar sua namorada, que é cadeirante, para jantar em um restaurante e escolheu usar o aplicativo justamente pela função de ver a experiência que outras pessoas tiveram com o estabelecimento. Então, decide ler os comentários para saber o que dizem sobre a estrutura do local, afinal, a maior preocupação do rapaz é se poderá entrar com sua namorada sem que haja escadas ou barreiras que os impeçam.
Note que o usuário neste exemplo não é uma pessoa com deficiência e não teve problemas com a usabilidade do produto, mas procurava informações que o fizesse ter certeza de que uma cadeirante poderia usufruir o serviço que o produto apresenta. E, mesmo que o aplicativo tenha sido projetado para atender pessoas com deficiência, a necessidade do usuário está além da acessibilidade no digital.
Isso nos leva a repensar toda a jornada do produto e não somente implementar a acessibilidade em sua usabilidade, mas também, projetar o contexto situacional em que será usado - direcionando o produto-serviço-empresa como uma estratégia completa da experiência. Pois, nem sempre é possível identificar necessidades específicas de uma pessoa (com deficiência ou não) e a variedade de situações que vive são imprevisíveis para se criar hipóteses.
Enquanto escrevia a hipótese que exemplifiquei acima, foi inevitável pensar algumas soluções junto ao problema e a melhor delas é a possibilidade de analisar dados reais do usuário.
Podemos realizar análises de interação e comportamento ou simplesmente buscar informações numa base de dados, etc. O importante é sempre usarmos os métodos que mais nos aproximem da realidade das experiências do usuário. Permitindo que nossas percepções pessoais façam parte do processo.
Quero que entenda a relação que nós designers temos com a análise de dados. Mais precisamente, a sua empatia ao analisar esses dados. Todo método ou processo que aprendemos para se realizar uma pesquisa são indispensáveis, mas nossa compreensão sobre a solução do problema para o outro, também.
empatia é a arte de se colocar no lugar do outro por meio da imaginação, compreendendo seus sentimentos e perspectivas e usando essa compreensão para guiar as próprias ações. - Roman Krznaric
Criar soluções para uma pessoa com deficiência (e digo com conhecimento de causa), mesmo que seja apenas uma alteração de cor na interface, significa transformar todas as expectativas futuras desse usuário.
Por exemplo, sou tetraplégica e meu pescoço permite o único movimento favorável à minha independência, então uso o computador com ajuda de uma adaptação. Desde o primeiro dia que comecei a explorar o mouse adaptado (carinhosamente apelidado de baratinha), um mundo de possibilidades se abriu pra mim e pouco tempo depois pude concluir o ensino médio - logo após o sonho de iniciar uma graduação.
Apesar de não conhecer os profissionais que trabalharam na criação desse produto, é incrível pensar em como entregaram muito mais que acessibilidade.
Como designers de experiência, devemos incluir as pessoas e todas as suas diferenças em nossos processos, equipes de trabalho e relacionamentos. Além disso, nossa compreensão sobre a diversidade das necessidades do usuário e o contexto que ele vive, propicia o desenvolvimento de novas ações estratégicas. Inovando produtos, integrando mais pessoas e causando maior impacto nos negócios.
Estou iniciando em UX, mas acredito firmemente na cultura de um mindset baseado no “projetar pensando em todos”, não criando estereótipos, mas conhecendo a fundo a realidade das experiências. Assim como o Design 2020 proporciona.
Muito obrigada, Vitor Guerra e a você que leu!
Praticante ávida de Marketing e Design com foco na experiência completa do usuário com o produto, serviço e marca. Após ficar tetraplégica e perceber inúmeras possibilidades para PCDs conquistarem independência com o uso da tecnologia, se apaixonou pela inovação e acessibilidade como ferramentas de transformação. Atualmente é gerente de UX/UI Design em uma startup multiespecializada em suporte técnico B2B.