O que é o design centrado no usuário se não são as pessoas?

Priscila Siqueira de Alcântara
Designer de Interação
,
CESAR
UPDATE:

A pandemia mudou tudo em 2020.
Por isso este artigo foi revisitado por quem escreveu em entrevista para o UXNOW com apoio da Deeploy.me

Imperdível!

Ouça este artigo

Artigo narrado por quem escreveu!

Do último ano para cá tenho notado a tendência dos eventos trazerem talks e keynotes falando sobre liderança e métodos em design, tecnologia e zero UI. Eu acho isso incrível, porque nossa profissão é nova, muita gente caiu nela de paraquedas vindo de outras áreas (psicologia, marketing, administração, ciências da computação e assim por diante) e, às vezes, a gente só veio parar onde está por acaso. Nos apaixonamos por isso e voilá, cá estamos. Precisamos mesmo aprender mais sobre tudo isso a cada dia.

Apesar de achar importante aprender sobre métodos, ferramentas e liderança (como disse acima, acho incrível), em algum lugar nessa linha do tempo aquele “centrado no usuário” anda se perdendo. Dia desses ouvi duas novas designers dizendo: “toda vez que vou explicar o que faço, tenho que dizer que sou designer, mas que trabalho com tecnologia”. Só fiquei me perguntando quando foi que a gente deixou isso acontecer e os designers acreditarem que trabalham com tecnologia e não com pessoas?Sim, pode parecer clichê que em 2020 alguém precise dizer isso, mas deixa eu repetir, para garantir que não vá se perder no tempo: design de interação sempre foi, é e será design projetado para pessoas.

Tem uma discussão acontecendo há um tempo e que cresce sobre zero UI.

O que tem se chamado de zero UI ou "no UI" é uma interface sem tela. Uma interface conversational como Siri ou Alexa, por exemplo. Até consigo entender esse lance de “Ah, não tem tela, é uma interação totalmente nova”. Entendo e discordo, já que a velha URA (disque 1 para receber seu código de barras. Disque 2, para saber o seu saldo…) já era uma interface conversacional.

Só posso pensar que esse fenômeno só possa ser um reflexo de um pensamento de que “design trabalha com tecnologia”. Deixa eu explicar: não existe zero UI ou no UI. Pode haver interação sem tela, mas gostaria de ouvir um defensor dessa nomenclatura me mostrar um objeto projetado para interação humana (ou não, me atrevo a dizer) sem interface que é exatamente o “I” de UI. Não dá pra projetar uma experiência, um serviço, um produto sem uma interface: interface aqui podem ser telas, outras pessoas, um controle remoto, uma câmera, um microfone, um conjunto de tudo isso, mas para ter experiência, tem que haver alguma forma de interação e no final das contas tudo isso é feito para pessoas.

Eu sei, eu sei. Existe interação máquina-máquina. Mas até ela é feita para proporcionar algo a alguém.Ninguém produz uma máquina só para uma outra máquina ou para um ser não humano que o objetivo final não seja beneficiar as pessoas de alguma forma. Vá em frente, te desafio.

Tirar as pessoas daquilo que você está produzindo só vai nos fazer retroceder: voltar ao tempo de“Você pode ter um carro de qualquer cor, desde que a cor seja preta”. Até tem instituições que fazem isso e os produtos até que custam bem caro. Mas isso só acontece porque ele já foi concebido buscando os desejos, necessidades, anseios das pessoas e uma viabilidade técnica e de negócios. Se falta qualquer um desses pilares na construção, a verdade dura que não quer calar é que a coisa não se sustenta.

Nem estou aqui para dizer a ninguém que não fique empolgado com tantas possibilidades novas subindo ou tecnologias espetaculares que despontam a cada dia e prometem ajudar na cura do câncer, melhorias de mobilidade para grandes cidades e tantas coisas legais que surgem. O ponto aqui é o mesmo que provavelmente foi o que fez com que cada um de nós se apaixonasse por nossa profissão:projetar produtos, serviços e experiências que tornem a vida das pessoas para melhor. Para fazer isso, eu sinto lhe dizer, mas não funciona olhar apenas pela lente da tecnologia, tem que sair do seu quadrado e olhar para o outro.

Para a pessoa com deficiência, para o senhor idoso que, cada dia mais tem acesso à tecnologia e usa isso a seu favor, para a pessoa que está deitada numa cama do hospital sem poder sair e para pessoas não tão privilegiadas como nós, que não tem acesso a uma educação superior e internet sob demanda.Esquecer das pessoas ao projetar é dar um tiro no pé ou mesmo viver numa bolha, achando que está mudando o mundo sem nem mesmo considerar, às vezes, o vizinho de muro, o porteiro ou até os seus próprios pais.

Não sei se você sabe, mas uma reportagem de 2018 da Agência Brasil* mostrou que um terço das pessoas no nosso país não tem acesso à Internet. Se o seu produto ou serviço precisa de Internet para funcionar, essas pessoas nunca vão ter acesso à ele. É errado? Depende. Se você projeta para um público específico, não. Mas se o seu produto, serviço ou experiência é para a geral, tenha em mente que quase 70 milhões de pessoas não vão conseguir usar sua solução mágica.

Talvez se a gente parar para pensar um pouquinho no design como algo multidisciplinar e agente de mudanças a gente consiga reverter esse cenário onde tantos tem visto a profissão como trabalhar com tecnologia, trabalhar com uma profissão do futuro e passe a ver o que é produzido através do design como ferramenta de melhoria para a vida das pessoas.

É meio esquisito ver designers produzindo para outros designers e para serem elogiados e esquecendo quem de fato importa: o seu usuário final, aquela pessoinha que vai ser beneficiada e, se o seu projeto é bom mesmo, nem vai notar o seu trabalho duro, afinal, como já disse o Jared Spool: O bom design, quando bem feito, torna-se invisível.

Entenda, amigo leitor, minha ideia não é que você não seja reconhecido pelo seu trabalho, que deixe de usar a tecnologia, repito: tudo isso é positivo e mais do que isso, esse texto é uma reflexão pessoal sobre a glamourização do design em detrimento ao que parece estar sendo deixado de lado, o que sempre foi e deveria continuar sendo importante: as pessoas.

Pode ser uma atitude idealista, essa de querer mudar o mundo, mas nem é sobre isso que esse texto fala.

O objetivo aqui é mais não mudar o mundo para pior e esquecer do que realmente importa. Não existem líderes de design sem liderados, que são as pessoas que fazem roda girar. Não faz sentido aplicar métodos de design se o produto ou serviço final não é algo pelo qual as pessoas vão se beneficiar. Ninguém liga se o seu produto foi projetado em Sketch, Axure, XD ou Figma. De nada serve ter uma Siri ou uma Alexa que não cumpre uma tarefa necessária ou ter tudo isso e não conseguir usar.O que importa mesmo é se você ajuda quem precisa, se o seu produto ou serviço salva vidas, se ele deixa as pessoas mais felizes e isso só é possível quando a gente considera o seu usuário, aquela pessoa que está do outro lado da tela, que está ao telefone, que está digitando, que está apertando o botão, que está comprando, que está usufruindo do seu serviço.

No fim do dia, o bom designer é aquele cara que vai para casa com a consciência tranquila, sabendo que o seu projeto pode até não mudar o mundo, pode até não ter sido feito naquela tecnologia de machine learning super avançada e tudo mais, mas que está fazendo a diferença na vida das pessoas para melhor. Todo o resto é só o brinde.

*http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2018-07/mais-de-um-terco-dos-domicilios-brasileirosnao-tem-acesso-internet

Não perca novos artigos no site e no podcast!
Não quero mais ver isso
Patrocinado:
Dados computados com sucesso!

(Essa mensagem não foi escrita por um UX Writer)
Vixi Maria! Algo errado não está certo...

Pode tentar de novo?

Se não conseguir, pode memandar um email que eu coloco seu nome da neswletter nem que seja na base do papel e caneta!

Vitor Guerra
vitor@pulegada.com.br
Priscila Siqueira de Alcântara
Designer de Interação
,
CESAR

A história por trás do Design 2020, via Design Team

Como fugir da mediocridade

JP Teixeira
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
JP Teixeira

Os próximos desafios do design

Anderson Gomes da Silva
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Anderson Gomes da Silva

O bom design começa dentro de casa

Rodrigo Peixoto
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Rodrigo Peixoto

Formação e organização de times de Design

Victor Zanini
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Victor Zanini

O iminente estouro da bolha de UX

Thomaz Rezende Gonçalves
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Thomaz Rezende Gonçalves

O ensino do Design nos tempos de quarentena

Edu Agni
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Edu Agni

A (in)visibilidade da acessibilidade e inclusão nos eventos de Design

Ana Cuentro
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Ana Cuentro

Como foi seu dia de trabalho?

Paola Sales
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Paola Sales

Reflexões sobre desenho de experiências com Inteligência Artificial e voz

Melina Alves
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Melina Alves

Os assistentes de voz e os desafios de desenhar interfaces conversacionais em 2020

Karina Moura
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Karina Moura

Vieses racistas: como combatê-los no design

Karen Santos
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Karen Santos

Designers em (form)ação

Thiago Esser
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Thiago Esser

Acessibilidade como ponte de empatia para o diverso

Livia Cristina Gabos Martins
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Livia Cristina Gabos Martins

Projetar para durar. Uma análise crítica da nossa profissão e dos produtos que projetamos

Filipe Landu Nzongo
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Filipe Landu Nzongo

Caminhos; experiências e narrativas

Clécio Bachini
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Clécio Bachini

O que você precisa saber sobre métricas para ser um UXer com uma visão 20/20

Allan Cardozo
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Allan Cardozo

Desenhar telas não vai salvar o mundo

Bruna Amancio
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Bruna Amancio

Aprenda a atender expectativas e nunca mais (ou quase) lide novamente com frustrações!

Marcelo Sales
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Marcelo Sales

Você não sabe nada

Bruno Rodrigues
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Bruno Rodrigues

O poder da visão holística e do posicionamento estratégico do UX

Priscilla Albuquerque
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Priscilla Albuquerque

O Design System nasceu! E agora? Como manter ele funcionando?

Thaise Cardoso
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Thaise Cardoso

Design como um todo

Roberta Nascimento de Carvalho
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Roberta Nascimento de Carvalho

Design estratégico - como a percepção sistêmica torna meu trabalho mais eficiente

Vilma Vilarinho
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Vilma Vilarinho

O choque das gerações para a liderança de design

Rodrigo Lemes
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Rodrigo Lemes

Eurocentrismo, Identidade e Negritude

Wagner Silva
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Wagner Silva

UX das Coisas: IoT, design e tecnologia na era dos dados

Thiago Barcelos
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Thiago Barcelos

Mais atividades, mais designers (e mais dificuldades)

Guilherme Gonzalez
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Guilherme Gonzalez

Ética e Privacidade: UX Research em Cidades Inteligentes

Raquel Cordeiro
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Raquel Cordeiro

O Design está morto. Longa vida ao Design!

Al Lucca
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Al Lucca

Seu produto é honesto com o usuário?

Flávio Pires
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Flávio Pires

How might we…. Como [nós, designers] podemos construir um 2020 para nos orgulhar?

Letícia Pires
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Letícia Pires

Escolhi ser designer no Brasil, e agora?

Bernardo Carvalho Wertheim
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Bernardo Carvalho Wertheim

O papel do designer está um pouco amassado. Como ele estará no futuro?

Caio Calderari
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Caio Calderari

Os desafios da pesquisa compartilhada

Desirée Sant'Anna Maestri
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Desirée Sant'Anna Maestri

Desenhando o futuro

Natalí Garcia
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Natalí Garcia

Vamos criar novos líderes?

Claudia Mardegan
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Claudia Mardegan

Acessibilidade com foco no usuário

Elias Fernandes
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Elias Fernandes

A importância de UI Design em um produto digital e a sua relação com UX

David Arty
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
David Arty

Desenhando para gigantes

Fares Hid Saba Junior
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Fares Hid Saba Junior

Uma visão holística de Acessibilidade, UX e Dados como soluções que atendam a todos

Liliane Claudia
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Liliane Claudia

A natureza contraditória de um Product Owner

Hélio Basso
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Hélio Basso

É hora de falar de ética na construção produtos digitais

Ana Coli
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Ana Coli

UX Como SAC

Richard Jesus
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Richard Jesus

Por que você precisa fazer a lição de casa

Mao Barros
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Mao Barros

Design de produtos digitais em agências

Marcela Hippe
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Marcela Hippe

O criatividade das cavernas

Thalita Lefer
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Thalita Lefer

A visão cliente é o ponto de intersecção dos meus “dois mundos”

Denise Rocha
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Denise Rocha

Indo além das boas práticas de User Experience Design

Rafael Miashiro
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Rafael Miashiro

Design como ferramenta de exclusão social

Diego Rezende
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Diego Rezende

Machine Learning e UX: insights e aprendizados (até agora…)

Carla De Bona
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Carla De Bona

Empreendedorismo feminino em UX Design

Patricia Prado
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Patricia Prado

Dia da Marmota

Daniel Furtado
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Daniel Furtado

Chegou a hora da nossa gente bronzeada mostrar seu valor

Guilhermo Reis
Revisado após a pandemia
disponível em áudio
Guilhermo Reis
Design 2020 também está disponível como podcast.

Updates
periódicos!
Ouça no Spotify